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Por uma escuta sensível e inteligente


Olá leitor, hoje faremos uma breve reflexão sobre a importância de se desenvolver na criança, uma escuta sensível e inteligente.

Sabemos que a matéria prima da música é o som. Nós, seres humanos, percebemos o mundo através dos nossos cinco sentidos. A visão nos permite perceber a forma, a cor e a luminosidade; o tato, as diferentes texturas, formas e temperaturas. Através do paladar diferenciamos os quatro sabores enquanto o olfato nos permite distinguir milhares de odores diferentes. Já a audição, além de ser parcialmente responsável pela nossa noção de equilíbrio, tem também como função a captação dos sons do meio ambiente. Assim, o sentido da audição ganha uma dimensão especial quando o assunto é música pois, a matéria prima dessa arte é o som.

É muito recomendável que o processo de sensibilização musical, ou de musicalização, comece com a “limpeza de ouvidos”, como propõe o músico canadense Murray Schafer. Segundo o autor, antes de darmos início ao treinamento de uma escuta musical propriamente dita, é necessário limpar os ouvidos, pois, ao contrário dos olhos, os ouvidos não têm pálpebras e por isso são expostos e vulneráveis.

Pois bem, em que consiste a limpeza de ouvidos?

Consiste em um processo de conscientização do fenômeno sonoro. A percepção de que estamos imersos em um mundo de sons. Vamos lembrar que vivemos a era da imagem e que o sentido da visão costuma nos orientar de forma predominante.

O que geralmente escapa à nossa percepção é que toda a paisagem visual traz em si uma paisagem sonora, termo cunhado por Murray Shafer para designar os sons que acontecem ao nosso entorno.

Experimente fechar os olhos por uns instantes e simplesmente fruir, apreciar, escutar com atenção o som das ondas do mar, o canto dos pássaros, o som que vem das ruas, do vento!

Esse processo de imersão na nossa paisagem sonora, implica em um conjunto de práticas que leva o sujeito a se perguntar:


a) Em que mundo sonoro eu estou submerso?

b) Que sons são esses que fazem parte do meu dia a dia?

c) Esses sons podem influenciar o meu estado de ânimo? Como? Por quê?

d) Qual é a qualidade desses sons?


A busca de respostas a essas e outras perguntas, acompanhada de exercícios diários de escuta, podem levar a pessoa a desenvolver uma escuta musical, ou seja, uma escuta refinada e consciente, princípio basilar para todo o processo de educação musical.

Mas, existe alguma diferença entre ouvir e escutar?

Segundo Barry Truax, “ouvir” implica uma “sensibilidade a uma vibração física dentro de certos âmbitos de frequências ou intensidades”. Portanto, ouvir é um ato passivo de recepção de energia.

Já, “escutarsignifica: ouvir com atenção, atribuindo significado, sentido aquilo que ouve. Assim, escutar implica em uma atitude ativa do ouvinte.

Por exemplo: se você assiste uma aula pensando nas tarefas domésticas que te esperam em casa, você está apenas ouvindo a voz do professor. Agora, se você deixa os pensamentos de lado e foca sua atenção ao conteúdo do que está sendo dito, atribuindo-lhe significado, você estará praticando uma escuta consciente.

É desejável que pais, professores e demais profissionais que trabalham com crianças, tenham a consciência da importância de se desenvolver uma escuta sensível e inteligente pois, além de colaborem ao seu processo de musicalização, estarão contribuindo também para a formação de seres mais generosos, sensíveis e empáticos.

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